Centros de Tambor de Mina constituem colônia maranhense na Baixada

São Luís, Anajatuba, São José de Ribamar, Alcântara. Em cada rosto, uma história, um lugar. Mas não é no Maranhão. É na Baixada Fluminense, nos centros de Tambor de Mina, que a cultura afro-brasileira e nordestina resiste e sobrevive no Rio. Em Seropédica, no Jardim São Jorge, a quase três mil quilômetros de São José de Ribamar, sua cidade natal, Dona Ozita, de 83 anos, mantém a tradição no Cazuá de Mironga, terreiro mais antigo da região que data da década de 50.

— Meu marido batia em mim e nos meus filhos. Com 35 anos, deixei ele e vim pro Rio. Passava muito mal (nos rituais religiosos). Um vizinho maranhense me trouxe aqui para resolver minha situação. O remédio foi ficar no terreiro de vez — lembra Ozita Nazaré Ferreira dos Santos, a segunda filha mais antiga do Cazuá.

Dona Antônia do Tambor de Mina faz todo o ano a Festa do Divino Espirito Santo no seu centro, em Nova Iguaçu
Dona Antônia do Tambor de Mina faz todo o ano a Festa do Divino Espirito Santo no seu centro, em Nova Iguaçu Foto: Mazé Mixo / Agência O Globo

Ozita ficou e fincou raiz. Após a morte, em 2003, do fundador do terreiro, o maranhense de Alcântara José Mirabeau Pinheiro, o “Zé Mirabô”, o filho dela, hoje com 45 anos, herdou a casa e a missão de dar continuidade à religião.

O Cazuá de Mironga, em Seropédica, tem mais de 50 anos de atividade no Tambor de Mina. Marly Marciana Ferreira (saia vermelha), de 63 anos, é a terceira filha do terreiro
O Cazuá de Mironga, em Seropédica, tem mais de 50 anos de atividade no Tambor de Mina. Marly Marciana Ferreira (saia vermelha), de 63 anos, é a terceira filha do terreiro Foto: Mazé Mixo / Agência O Globo

Antes de reunir anualmente no seu terreiro, no bairro da Posse, Nova Iguaçu, dezenas de fiéis e interessados pelo Tambor de Mina, na Festa do Divino Espírito Santo, Dona Antônia do Tambor de Mina Abassá de Iansã e Obaluaiê, de 77 anos, até tentou escapar da religião. Veio de São Luís aos 22 anos, quando ainda era Antônia Luzia Barbosa da Costa.

— Construímos a casa nos anos 70. Em 75, começamos com a Festa do Divino. Minha mãe morreu há 25 anos e eu quis fechar, mas ela pediu em sonho para eu continuar. O caboclo também exigiu. É tradição de raízes — referindo-se à entidade Légua Bogi Buá.

O Cazuá de Mironga, em Seropédica, tem mais de 50 anos de atividade no Tambor de Mina. Dona Ozita é mãe do atual pai de santo e filha da casa
O Cazuá de Mironga, em Seropédica, tem mais de 50 anos de atividade no Tambor de Mina. Dona Ozita é mãe do atual pai de santo e filha da casa Foto: Mazé Mixo / Agência O Globo

Entre as festas no Tambor de Mina, a do Divino Espírito Santo é das mais famosas. Carregada de símbolos católicos, acontece no período de Pentecostes e dura dois dias. Os fiéis fazem procissão com direito a corte formada por crianças, música, dança, rezas em latim, além de muita comida.

O Cazuá de Mironga, em Seropédica, tem mais de 50 anos de atividade no Tambor de Mina. Marly Marciana Ferreira, de 63 anos, é a terceira filha do terreiro
O Cazuá de Mironga, em Seropédica, tem mais de 50 anos de atividade no Tambor de Mina. Marly Marciana Ferreira, de 63 anos, é a terceira filha do terreiro Foto: Mazé Mixo / Agência O Globo

Festas consolidam colônia

Um levantamento feito pelo Instituto de Arqueologia Brasileira mostra que os terreiros constituem colônias maranhenses na Baixada.

— O Tambor de Mina é uma manifestação religiosa típica de maranhenses que migraram para o Rio em busca de melhores condições de vida e deram continuidade à tradição. Quando tem festa em Seropédica ou na Dona Antônia, todos vão. A colônia se reúne numa grande manifestação para perpetuar as raízes, mas também está sempre em contato com essas raízes — explica a pesquisadora do IAB Cíntia Silva, que fez o Projeto de Divulgação e Estudo de Patrimônio Imaterial do Programa do Arco Metropolitano.

— São maranhenses que estão aqui há muito tempo e que não se adaptaram a outras religiões — descreve Marly Marciana Ferreira, de 63 anos, terceira filha do Cazuá de Mironga.

O Cazuá de Mironga, em Seropédica, tem mais de 50 anos de atividade no Tambor de Mina. Marly Marciana Ferreira (saia vermelha), de 63 anos, é a terceira filha do terreiro
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